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TOMAR A DIANTEIRA

Na Escola Primária Potter Road de Framingham são usadas duas línguas nas lições

Após o distrito escolar de Framingham ter expandido os seus programas de dupla língua, o Daily News analisou atentamente este método de aprendizagem com uma série de três partes.

Um repórter e fotógrafo observaram estudantes e professores na Escola Primária Potter Road, e mais tarde visitaram algumas famílias e alguns estudantes para aprenderem mais sobre os seus antecedentes linguísticos.

A meio do projecto, a crise da COVID-19 chegou a Framingham, forçando uma súbita experiência de aprendizagem à distância causada pelo vírus.

DUPLO BENEFÍCIO NA SALA DE AULA

Em Framingham, a aprendizagem de duas línguas ao mesmo tempo torna os estudantes mais fortes.

Quando precisava que os seus alunos se concentrassem, a professora do primeiro ano Miriam Lapa Silva dizia simplesmente: “Olé, olé”.

Um coro de 24 vozes cantava depois, “Olhos em você”.

As crianças numa outra turma poderiam ter respondido: “All eyes on you”. Mas na sala 8 da Escola Primária Potter Road, Lapa Silva falava com os seus alunos apenas em português.

Este era o segundo ano desde que a escola na zona norte tinha lançado o seu programa de dupla língua, um método de aprendizagem que tem ganho popularidade em Framingham e em todo o estado. Os alunos de Lapa Silva – uma mistura de falantes de inglês e português – passavam 70% do seu dia imersos na língua portuguesa. No final da tarde, um instrutor diferente chegava para ensiná-los em inglês.

Juntos, os alunos aprendiam a língua uns dos outros, com o objectivo de se tornarem fluentes em ambas.





Depois, em meados de Março, os edifícios escolares apagaram as luzes e a aprendizagem passou a ser feita remotamente. Para os programas conduzidos em duas línguas, os encerramentos por causa da COVID-19 têm sido especialmente difíceis. As crianças com conhecimentos limitados de inglês viram o seu progresso em dominar o idioma inglês – e outras disciplinas – abrandar. Os alunos que falam inglês podem ter dificuldade em reter na memória palavras desconhecidas sem se sentarem ao lado dos seus colegas de turma nativos.

Como o período do Outono ainda continua nublado, as escolas de Framingham estão a agir de modo a garantir que os alunos de duas línguas não fiquem sem amparo.

A professora Miriam Lapa Silva, do primeiro ano de Educação Bilingue Transitória na Escola Primária Potter Road, canta a canção “Bom Dia” com os seus alunos para dar início ao dia escolar. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

Os alunos aprenderam duas novas palavras – tradição e celebração – durante a aula do primeiro ano de Educação Bilingue Transitória na Escola Primária Potter Road. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

O “porquê”

A ideia é que as crianças de todas as origens beneficiam quando aprendem em duas línguas ao mesmo tempo.

Os alunos aprendizes de inglês – pouco mais de um quarto de todos os alunos das Escola Públicas de Framingham – apresentam um atraso em relação aos seus colegas em termos de desempenho académico. Por exemplo, 65% deles concluíram o ensino secundário após quatro anos, em 2019 em Massachusetts, em comparação com 88% de todos os alunos, de acordo com dados do Departamento de Ensino Básico e Secundário.

Os peritos dizem que a escolaridade em duas línguas pode ajudar. Um estudo de 2017, publicado no Annual Review of Applied Linguistics, concluiu que programas de alta qualidade e de dupla língua podem colmatar lacunas na literacia ao fim de cinco a seis anos.

Isto é provável porque é mais fácil para as crianças desenvolver competências académicas numa língua que já conhecem, de acordo com um artigo de 2013 da revista American Educator.

Depois, ao aprenderem inglês, podem transferir o que aprenderam na sua língua materna para a nova língua. Os programas também as ajudam a reter e melhorar as suas línguas de origem, ao contrário das salas de aula só em inglês, onde as suas competências linguísticas nativas podem diminuir.

A professora Miriam Lapa Silva conduz a sua aula do primeiro ano na Escola Primária Potter Road em Dezembro. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

Entretanto, os alunos falantes de inglês frequentam o programa de língua dupla porque os pais acreditam que este desafia o seu filho e lhes dá uma vantagem social e económica mais tarde na vida. Uma investigação da Universidade Concordia de Montreal, em 2016, concluiu que as crianças pequenas bilingues são mais aptas do que as monolingues a resolver certos problemas e que as crianças com mais prática em mudar de uma língua para outra são ainda melhores.

Dobrar a aposta

Em apenas dois anos, o distrito alargou o número das suas escolas com um programa em duas línguas de um para quatro, entre nove. O programa da Potter Road, iniciado em 2018, marcou a primeira vez que se tornou acessível aos alunos falantes de português do distrito.

A lista de espera aumentou após a sua estreia, ultrapassando 30 alunos. No último ano lectivo, mesmo com a abertura de mais salas de aula em todo o distrito, ainda havia uma lista de espera de cerca de 50 alunos falantes de português.

A procura desafia uma iniciativa eleitoral de 2002 que proibiu o ensino bilingue em Massachusetts, sendo aprovada com uma maioria de 61%.

Framingham foi uma das poucas comunidades autorizadas a ensinar estudantes não falantes de inglês nas suas línguas maternas durante os 15 anos seguintes, navegando por um processo complicado para obter derrogações à lei. A Escola Primária Barbieri abriu algumas salas de aula de duas línguas em 1990, juntando-se na altura apenas a uma meia-dúzia na nação.

A escola tornou-se totalmente bilingue no final da década de 90.

“Temos sorte em ter Framingham. Eles mantiveram as coisas a funcionar enquanto as coisas estavam muito difíceis no estado para a educação bilingue”, disse o professor de Educação do Boston College, Patrick Proctor.

Antes da revogação da lei do ensino exclusivamente em inglês, em 2017, havia poucas opções para os alunos falantes de português. Muitos eram ensinados na sua língua, mas todos os anos eram expostos um pouco mais ao inglês com a intenção de os mudar rapidamente para salas de aula só em inglês. O distrito planeia eliminar gradualmente esse estilo – a chamada educação bilingue de transição. Tira mais do que dá, referiu Genoveffa Grieci, que supervisiona o Departamento Bilingue do distrito escolar.

Renato Fraga usa o computador na sua aula do primeiro ano na Escola Primária Potter Road, em Dezembro. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

Os alunos aprenderam duas novas palavras – tradição e celebração – com a professora de ESL Sara Rodriguez na Escola Primária de Potter Road. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

“O que acontece é que a sua língua materna se torna secundária. (Ao cabo de alguns anos), pode ser bilingue, mas não pode definitivamente ler e escrever proficientemente nas duas línguas”, afirmou Genoveffa Grieci.

É por isso que professores como Lapa Silva têm estado ansiosos pela expansão do programa da dupla língua.

“Temos estado à espera disto”, disse Lapa Silva. “Porque sabíamos que este era o caminho a seguir”.

“Pensávamos que ele ia perder a cabeça”

Quando era aluno da pré-escola, Davi Cordeiro, filho de imigrantes brasileiros, gravitou para o inglês.

“Nadando” pela língua, ouvia inglês enquanto falava com os colegas, via televisão e ouvia música. Via-o nas montras e billboards, nos livros e nos supermercados.

Davi Cordeiro, aluno do primeiro ano na Escola Primária Potter Road, lê Dr. Seuss em casa com a mãe, Carina, pai, Paulo, e cadela, Bella. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

Os seus pais – fluentes em inglês e português – tentaram manter a sua língua materna viva em casa, mas lutaram contra a omnipresença do inglês. As suas conversas com ele em português eram unilaterais. Falavam com ele em português e ele respondia com um silêncio confuso.

“Pensávamos que ele ia perder a cabeça”, disse Paulo Cordeiro, pai de Davi.

Um professor disse-lhes que o Davi mal falava português na escola e que a dupla língua poderia ser uma boa opção. Para Davi, de 6 anos, um falante de herança – ou um aluno que tem alguma formação em português mas é dominante em inglês – esta sugestão veio na altura certa.

Os linguistas dizem que o período para as crianças absorverem uma nova língua é limitado – desde o nascimento até aos 10 anos, o cérebro é como uma esponja, capaz de absorver rapidamente novas línguas. Mas depois da puberdade, é menos fléxivel.

Crianças como Davi – filhos de imigrantes que são dominados pelo inglês – são especialmente vulneráveis à perda da língua materna.

Carina Cordeiro, mãe de Davi, referiu que queria que ele mantivesse o seu português para que pudesse falar com os membros da família brasileira alargada e ter melhores perspectivas de carreira.

Ele foi matriculado imediatamente.

“No primeiro ano, ele estava assustado”, disse Carina Cordeiro.

Livros em português no tablet, em casa de Davi Cordeiro, aluno do primeiro ano na Escola Primária Potter Road.

Davi Cordeiro, aluno do primeiro ano na Escola Primária Potter Road, lê um livro digital no tablet, em casa com o pai, Paulo. Art Illman Photos | MetroWest Daily News Staff

Davi Cordeiro, aluno do primeiro ano na Escola Primária Potter Road, lê um livro digital no tablet, em casa. |

Ele começou a falar português básico em casa, informaram os seus pais. Aprender com outras crianças faz com que seja divertido e menos assustador, disse Davi.

“Foi muito difícil, mas foi ficando cada vez mais fácil todas as vezes que eu tentava”, disse ele.

Recentemente, a família estava aconchegada no sofá, devorando um livro sobre um gato salvo pelos bombeiros. Lenta e cuidadosamente, Davi lia cada linha em português em voz alta para os seus pais.

As suas palavras em português eram ligeiramente moldadas por um sotaque americano, Paulo Cordeiro notou com um sorriso.

Diferentes estilos de aprendizagem

Lawrence Wolpe tomou as rédeas como novo director da Potter Road, ao mesmo tempo que o programa de língua dupla estava a ser implementado na escola. Anteriormente director-adjunto da escola, disse que alguns pais estavam relutantes em ver a cultura da escola mudar, considerando-a uma mudança “complicada”.

Mas, de um modo geral, têm abraçado o programa, disse ele, acrescentando que é raro um pai retirar o seu filho do mesmo.

“Os pais que se inscrevem neste programa sabem que é um compromisso, que estão a dar um pequeno salto de fé, mas acreditam que, a longo prazo, irá beneficiar o seu filho. Os pais que o fazem têm se mostrado bastante satisfeitos até agora”, disse Wolpe.

Elizabeth Law – que se autodescreve como uma “mãe tatuada com cabelo roxo” – veio para Framingham grávida de 6 meses, via Utah. Quando chegou a altura de pesquisar escolas para as suas filhas gémeas, o programa de língua dupla da Potter Road tornou-se imediatamente uma opção.

Ela gostou da ideia das gémeas enfrentarem um desafio de cabeça erguida no início da sua vida, e queria que elas fossem expostas à diversidade desde cedo.

Elizabeth Law lê um livro com as filhas de seis anos, Evey e Ada, antes de irem para a cama, enquanto o seu marido, Craig Wilkey, brinca com o cão da família na sua casa em Framingham. Nathan Klima | For MetroWest Daily News

Ada tem uma propensão para regras e ordem. Ela consegue sentar-se tranquilamente durante horas sem qualquer problema. Ela diz a quem lhe perguntar – e mesmo a quem não perguntar – que é mais velha por cerca de 3 minutos, referiu o pai, Craig Wilkey.

“Senti que ela ia ‘acertar em cheio’ na escola,” adiantou Law.

Evey, por outro lado, está em constante movimento – a saltar, a rir e a correr. Wilkey disse que estava preocupada em garantir que Evey se comportava bem na escola sem “esborrachar o seu pequeno espírito que faz com seja tão saltitante e alegre o tempo todo”.

Mas quando o jardim-de-infância começou, a energia de Evey beneficiou-a. Ela mergulhou de cabeça no programa, disse Wilkey, absorvendo a língua e fazendo amizades muito facilmente.

Entretanto, Ada permaneceu em silêncio, abalada por não entender o que se dizia na aula. Ela não falava em português e, se falasse, sussurrava. Quando a professora a chamava, ela chorava, referiu Law.

“Ela é uma perfeccionista, não quer fazer nada até saber que está a fazer bem. Ela não quer dar resposta, a menos que saiba que é a resposta certa”, disse a professora. “E Evey vai avançar”.

Law afirmou que estava relutante em retirar Ada do programa, adiantando que isso poderia arruinar a sua confiança. Além disso, ela “acreditava firmemente que conseguia ter sucesso”.

Ao começarem as aulas do primeiro ano, os pais pediram à escola que as colocassem na mesma turma. Ajudou o facto de Wolpe ser pai de gémeos, disse Wilkey.

Um dos trabalhos escolares em português de Ada Law Wilkey, afixado na parede de sua casa em Framingham. Nathan Klima | For MetroWest Daily News

Evey Law Wilkey (à direita), 6 anos, lê um livro em português enquanto a sua irmã, Ada Law Wilkey, desenha no seu caderno, na sua casa em Framingham, em Fevereiro. Nathan Klima | For MetroWest Daily News

Elas foram colocadas na turma de Lapa Silva, onde Ada ainda falava sobretudo inglês. Antes das reuniões de pais e professores, a professora estabeleceu um objectivo para a Ada: ela queria que ela repetisse uma frase recitada por Lapa Silva em português.

Uma semana antes da reunião, Lapa Silva informou que Ada lhe fez uma pergunta em português, espontaneamente.

Hoje, as gémeas mudam de inglês para português e vice versa, esperando que a língua possa servir de seu “código gémeo” especial. A dupla por vezes actua como tradutora da mãe enquanto esperam na paragem do autocarro com famílias brasileiras.

Law salientou que Lapa Silva fez um comentário que ajudou a entender melhor as diferenças entre as suas filhas.

Ela disse: ‘Algumas crianças aprendem uma língua ao ouvi-la. Por isso, começam a falar imediatamente. Vão inventar palavras e sons e têm de ouvir a pronúncia para saberem quando acertaram”, recordou Law. “Mas outras crianças têm de absorver, absorver e depois não falam até saberem que estão certas”.

Antes e depois da COVID-19

O vírus chegou a Framingham em 11 de março, quando um dos pais de um estudante da Potter Road fez o teste e obteve um resultado presuntivo positivo.

A criança, que tinha frequentado a escola nesse dia, também apresentou sintomas ligeiros. Os funcionários da escola encerraram rapidamente a Potter Road, mandando os alunos para casa durante o dia. Todas as escolas foram fechadas no dia seguinte e permaneceram encerradas durante o resto do ano lectivo.

“Foi há oito semanas, mas parece que foi há oito anos”, disse Wolpe. “Naquela altura, ninguém sabia mais nada além de: ‘Meu Deus, isto é sério”.

Por necessidade, toda a aprendizagem acontece agora à distância. Nem todas as crianças possuem as ferramentas necessárias para aceder à Internet – especialmente aquelas com conhecimentos limitados de inglês, segundo um estudo de 2019 do Departamento de Educação dos EUA.

Por causa disso, o distrito recebeu milhares de computadores Chromebooks para os alunos, distribuindo-os em eventos de ‘drive-through.’ Mais tarde, foram enviados mais dispositivos, bem como hot spots WiFi, para famílias que continuavam a ter necessidade.

Mesmo com este esforço, alguns estudantes e famílias não sabiam como ter acesso online ou não dispunham de um local tranquilo para trabalhar.

“Os professores tornaram-se honestamente em um apoio técnico adicional”, disse Christine Mulroney, presidente da Associação de Professores de Framingham.

Entretanto, encontrar, fora da escola, materiais de qualidade em algumas línguas, pode ser um desafio. O distrito criou uma biblioteca de recursos digitais, tais como vídeos com professores a ler e links no YouTube para programas de televisão em português.

No entanto, aqueles pequenos e preciosos momentos que surgem no decorrer de um dia numa sala de aula de duas línguas já não existem.

Lais De Oliveira, aluno do primeiro ano na Escola Primária Potter Road, usa o computador na sala de aula. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

Num dia típico de escola, os alunos de Lapa Silva estavam ocupados a escrever sobre a forma como normalmente celebram os seus aniversários. Para Lais de Oliveira, 7 anos, a resposta foi uma visita a um restaurante chinês.

Falante de português, ela hesitou na ortografia inglesa.

Kaiyo Perpetuo, que nasceu nos Estados Unidos e fala inglês e português, interveio.

“Rest-au-rant”, disse Kaiyo, de 6 anos, lentamente.

Do outro lado da sala, uma menina que tinha sofrido uma experiência traumática trabalhava na mesma missão. Ela é excelente na ortografia, informou Lapa Silva, mas normalmente fica calada.

Com um dedo, ela apontava silenciosamente em cada letra para formar uma palavra. A sua colega de turma era melhor com a fonética e conseguia dizer as palavras que escrevia.

Esta aprendizagem dinâmica – onde as crianças que falam português ajudam os falantes nativos de inglês a aperfeiçoar o seu português e vice-versa – será difícil de replicar num ambiente remoto. Sem poder aprender com os colegas ou ver um professor a exemplificar a língua cara-a-cara, a imersão na língua não atingirá o mesmo nível.

Além disso, se a escola regressar a um modelo presencial neste Outono, as máscaras faciais, que provavelmente serão necessárias usar de alguma forma, poderão ser um obstáculo. Muitos alunos dependem de expressões faciais para aprender línguas.

A maioria dos administradores planeia avaliar todas as crianças quando regressarem à escola de modo a compreenderem de que forma o encerramento as afectou e para definir estratégias sobre como as ajudar a desenvolver as suas competências.

“Ninguém sabe como será a aprendizagem quando regressarmos no Outono”, disse Wolpe. “Mas precisamos de reconhecer que vai haver alguma regressão”.

Próximo ano

Durante meses, a Potter Road ficou vazia.

No final da Primavera, carros entraram no parque de estacionamento, com os seus passageiros a segurar em pedaços de papel com os nomes dos seus filhos. As crianças sentadas no banco de trás, usando máscaras, tinham os seus próprios cartazes a agradecer aos professores colados nos vidros das viaturas.

Esta operação devolveu aos alunos os pertences que tinham deixado nos seus cubículos e nas salas de aula, esperando regressar à escola em poucas semanas.

Antes do encerramento, Lapa Silva podia ser encontrada na sua sala de aula, a cantar com os seus alunos e a orientá-los através de problemas de matemática. Tudo tinha um rótulo em português – agrafadores, globos, sabonete – para que as crianças pudessem vê-los e fazer ligações.

A professora do primeiro ano Miriam Lapa Silva faz um ponto da situação durante uma aula na Escola Primária Potter Road, em Dezembro. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

Pedro Camacho desloca-se ao quadro para colocar um “Sticky Note” durante a aula do primeiro ano na Escola Primária Potter Road, em Dezembro. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

Neste Outono, o programa da Potter Road vai expandir até ao terceiro ano.

“O que tenho visto até agora é professores a trabalhar arduamente para satisfazer as necessidades dos nossos filhos e a envolver os alunos com muita atenção”, disse Wolpe.

Quando os alunos regressarem ao edifício através das largas portas azuis eléctricas, será sob uma faixa que diz: “Através dessas portas caminham as melhores crianças do mundo.”

CAPÍTULO 2:

Estamos apenas no início

Na Escola Primária Road School, a professora Josefa Carvalho cola legendas em português sobre palavras em inglês e depois copia e agrafa as páginas em livros para os alunos. Os professores do programa de dupla língua têm muitas vezes de criar os seus próprios materiais devido à falta de material em português apropriado. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

Os obstáculos são muitos para os professores dos programas de Framingham

Numa sala de aula vazia na Escola Primária Potter Road, a professora Josefa Carvalho, docente do primeiro ano, encontrava-se a trabalhar arduamente.

Já tinha folheado meticulosamente as páginas de um livro infantil para o traduzir e dactilografar cada linha em português. Mais tarde, esperou que a impressora liberasse as folhas de papel e depois cortou cada frase. A seguir, colou as linhas recém traduzidas sobre o inglês original que preenchia o livro.

Em cerca de uma hora, “Blue Whales: Giant Mammaks” passou a ser “Baleias Azuis: Mamíferos Gigantes,” e ela tinha um novo livro para os seus alunos lerem nas aulas.

“Isto vai-se realmente acumulando,” disse Carvalho sobre a rotina.

À semelhança de muitos professores que trabalham em programas de dupla língua, Carvalho luta com a falta de materiais já elaborados na sua língua de ensino e dedica tempo extra a preencher esta lacuna. É uma das dificuldades de crescimento que Framingham e outros distritos escolares enfrentam à medida que se expandem ou lançam programas em duas línguas.

O director escolar Lawrence Wolpe elogiou os professores como Carvalho como sendo “educadores criativos que estão dispostos a percorrer essa distância extra,” mas chamou-lhe uma solução a curto prazo.

“O longo prazo é um desafio,” referiu. “É difícil encontrar fornecedores que vendam livros em português… pode ir à Amazon e talvez consiga encontrar uma dúzia de livros, e três deles são apropriados. E talvez já os tenhamos.”

E mesmo que se encontrem livros infantis em português, são normalmente mais caros do que os livros em inglês ou espanhol. Um exemplar de “Horton Hears a Who!” do Dr. Seuss é vendido por $8.53 na Amazon, mas a versão portuguesa “Horton Choca o Ovo” vende por $36.97.

O mesmo livro em espanhol custa $11.84.

Na Escola Primária Road School, a professora Josefa Carvalho cola legendas em português sobre palavras em inglês e depois copia e agrafa as páginas em livros para os alunos. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

A professora Josefa Carvalho cola legendas em português sobre palavras em inglês e depois copia e agrafa as páginas em livros para os alunos, na Escola Primária Road School. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

É um problema que os líderes distritais enfrentam quando lançam programas de dupla língua, em idiomas menos comuns. Até há pouco tempo, a maioria das iniciativas eram em espanhol-inglês, o que deixava uma lacuna de um currículo e de materiais adequados em português.

Uma solução possível é que os membros do staff comprem os livros enquanto estiverem no estrangeiro e sejam reembolsados mais tarde, mas isso significaria um afastamento do processo normal do distrito de trabalhar com fornecedores respeitáveis para comprar livros, afirmou o Superintendente de Escolas Robert Tremblay.

Por exemplo, não fica claro qual seria o processo de reembolso se um professor pagasse com dinheiro por um livro num mercado ou livraria no Brasil.

“É muito mais difícil atribuir responsabilidades nesse modelo,” disse Tremblay. “Mas se não conseguirmos obter livros através de um fornecedor local, essa poderá ser a única forma de conseguirmos livros autênticos nas nossas salas de aula. Portanto, é isso que estamos a tentar descobrir.”

O problema intensificou-se ainda mais com o surto da COVID-19, uma vez que também há falta de recursos digitais adequados. Os líderes distritais começaram a criar uma biblioteca de recursos remotos, incluindo vídeos de professores a ler em voz alta e sítios na Internet onde os alunos podem explorar listas de palavras do vocabulário.

Geração perdida de professores

A escassez de professores bilingues também constitui um desafio para os distritos que procuram lançar ou expandir programas em duas línguas. Enquanto a Potter Road se preparava para expandir o seu programa de dupla língua para a terceira classe neste Outono, Wolpe realizou várias entrevistas virtuais com candidatos no Brasil.

“Obviamente, você não quer contratar alguém porque sabe falar a língua. Você quer contratar alguém porque sabe falar a língua e é bom professor,” afirmou Wolpe.

Os peritos associam a lentidão desta reserva de professores especializados à iniciativa eleitoral de 2002, que proibiu a educação bilingue em Massachusetts.

Na sequência dessa lei, a maioria das iniciativas de transição bilingue neste estado foi rapidamente desmantelada e transformada em programas exclusivamente em inglês. Os programas em duas línguas que já existiam conseguiram sobreviver, mas na altura só existiam cerca de 13.

Framingham e um punhado de outros distritos foram excepções notáveis, uma vez que navegaram num processo moroso de obter derrogações à lei para continuar a praticar a educação bilingue.

“O efeito foi bastante profundo,” referiu Patrick Proctor, professor de Educação no Boston College. “A educação bilingue como prática permaneceu, mas sob uma forma ferida.”

O seu impacto fez-se sentir imediatamente nas salas de aula por todo o estado. Alguns professores e administradores ficavam com os cabelos em pé quando os alunos falavam espanhol, hmong, mandarim ou outras línguas nos corredores, disse Proctor.

“Essas atitudes começaram realmente a implantar-se, e as crianças também as aprenderam rapidamente,” disse Proctor.

Milhares de alunos bilingues passaram 15 anos a aprender em salas de aula que os “mergulharam” no idioma inglês, com pouco acesso a outras línguas. Muitos quando saíram da escola já não eram multilingues ou tinham um fraco domínio das suas línguas maternas, disse Grieci.

Isto equivale à perda de uma geração de potenciais educadores bilingues.

De acordo com dados estaduais, um número minúsculo dos indivíduos que realizaram o exame de qualificação de professores promovido pelo Estado é bilingue. De acordo com dados do American Community Survey, Massachusetts tem cerca de meio milhão de falantes de português. Mas, a partir dos resultados dos testes de 2017-18, apenas 62 entre mais de 9.500 pessoas (cerca de 0,6%) que realizaram os Massachusetts Tests for Educator Licensure eram falantes nativos de português.

Pouco mais de metade foram aprovados

Embora a lei estivesse em vigor, as faculdades e universidades deixaram, na sua maioria, de preparar professores para liderar salas de aula bilingues. Com o passar dos anos, tornou-se “cada vez mais claro que se tratava de uma lei insustentável,” disse Proctor.

“Os directores (dos programas de dupla língua) estavam constantemente a falar sobre como contratavam professores porque eram bilingues, mas vinham para a escola e não sabiam o que era a dupla língua,” disse Proctor. “Estavam a gastar todo o seu dinheiro para o desenvolvimento profissional na escola para fazer a formação básica dos professores, para os familiarizar com aquilo em que acabavam de se meter.”

O Boston College e outras faculdades e universidades tentaram resolver o problema criando um programa de certificação para preparar melhor os professores para as escolas de duas línguas.

A lei do ensino exclusivamente em inglês foi revogada em 2017.

Há mais de 10 anos, Framingham chegou mesmo a considerar contratar no estrangeiro através de um acordo com a embaixada espanhola. Actualmente, existem cerca de 25 professores internacionais que deixaram as suas casas do outro lado do oceano para ensinar no distrito por períodos de um a três anos.

A maioria é de Espanha, embora um seja do Brasil.

Ainda há muito trabalho, ainda agora começámos este trabalho.

Genoveffa Grieci
Supervisiona o Departamento Bilingue do distrito escolar

Em geral, a mão-de-obra docente tem lutado com um problema de diversidade. Neste estado, enquanto a população estudantil se tornou mais diversificada em termos raciais, a maioria dos seus professores são brancos.

Este problema estende-se aos professores bilingues, disse a professora de Educação da Universidade de Lesley, Meg Burns.

“Uma dessas formas de diversidade é a língua,” afirmou Burns.

Congelados no tempo

Agora que a educação bilingue é novamente legal, Proctor encoraja as faculdades a utilizarem a investigação moderna sobre bilinguismo para moldar a forma como os professores são formados e, em última análise, criar programas mais dinâmicos para as crianças de hoje.

“Ficámos basicamente congelados no tempo. Em 2002, a investigação que imperava era dos anos 90… a minha preocupação é que agora que a educação bilingue é novamente legal, voltemos ao que sabíamos sobre o estado da educação bilingue, em vez de fazermos um balanço do conhecimento que foi gerado no século XXI,” disse Proctor.

Grieci afirmou que o distrito sabe que tem de “trabalhar o dobro” para se certificar de que dispõe dos recursos e do pessoal adequados para estes programas.

“Ainda há muito trabalho, ainda agora começámos este trabalho,” disse Grieci.

CAPÍTULO 3

AS SUA HISTÓRIAS

Os estudantes que aprendem duas línguas estão a tomar a dianteira

A Escola Primária Barbieri abriu pela primeira vez algumas salas de aula de duas línguas em 1990, juntando-se a apenas uma mão-cheia delas existentes naquela altura no país. Todas as salas de aula fizeram a transição para a dupla língua no final dos anos 90, e hoje em dia continua a ser a única escola de dupla língua no distrito. Os ex-alunos do programa olham para trás para a sua experiência e para a forma como ela moldou as suas vidas.

Parte de um clube secreto

Quando a sua família se instalou em Framingham, Maria Gomez tinha uma regra para os seus filhos: Falar sempre em espanhol em casa.

Eles fugiram do Equador no início dos anos 90, recomeçando as suas vidas neste subúrbio a oeste de Boston. Matricular as crianças em aulas de duas línguas era uma forma essencial de se agarrarem a um pedaço da terra mãe, disse Gomez.

“Nada no mundo é mais importante do que a nossa herança cultural. A língua, o conhecimento, o amor – ninguém os pode tirar de você”, disse Gomez, enquanto tomava um café no seu apartamento em Saxonville. “Eu faria tudo o que estivesse ao meu alcance para que eles pudessem falar espanhol”.

O seu filho foi o primeiro a conseguir um lugar no programa da Escola Primária Barbieri, através de uma lotaria. Devido ao privilégio concedido a irmãos, a filha, Cynthia, foi automaticamente inscrita no programa existente há 6 anos, em 1996.

Esta continua a ser a única escola de língua dupla no distrito. Ao frequentar as aulas na Barbieri, Cynthia Gomez, agora com 28 anos, lembra-se de se sentir como se fosse membro de um clube secreto.

Cynthia Gomez, à direita, na sua graduação da Framingham High School em 2009, com Alma Garcia, à esquerda, e Esta Montano, a mentora de Gomez.

Cynthia Gomez, fotografada na sua formatura do Smith College em 2013. Fotos cortesia Fotos cortesia |

“Quando era criança, sabia que era diferente, mas nunca compreendia o que isso significava exactamente. Não se consegue perceber exactamente o que nos torna diferente, mas para mim e para os meus amigos parecia que fazíamos parte de um clube que podia falar espanhol”, disse ela.

Como imigrantes recém-chegados, Cynthia Gomez disse que o programa também fez com que a sua família se sentisse em casa, vendo cartazes em espanhol na sala de aula e ouvindo o idioma nos corredores. Maria Gomez estima que ia à escola três vezes por semana para ser voluntária na sala de aula. Hoje não é raro ser reconhecida por ex-alunos daquela cidade.

“Foi acolhedor, em vez de separar ainda mais”, disse Cynthia Gomez.

Cynthia continuou com o programa de duas línguas durante o liceu, graduando em 2009. Foi para o Smith College, em Northampton, onde obteve a licenciatura em Economia e Desenvolvimento Global.

Actualmente, Cynthia Gomez trabalha no Departamento de Economia da Universidade de Harvard como assistente do corpo docente, além de ter trabalhado como primeira tenente na unidade logística da Guarda Nacional de Massachusetts, em Springfield. Ela apoia-se na sua fluência em espanhol diariamente, especialmente enquanto interage com a grande população latina em Springfield.

Mais importante ainda, porém, ela aponta algumas das relações mais fortes da sua vida como produto do programa. Quando era estudante universitária, pôde estudar no estrangeiro, em Espanha. Enquanto esteve no estrangeiro, conheceu o noivo.

“Mudou completamente a minha vida e acho que isto começou realmente no jardim-de-infância”, disse Cynthia Gomez.


“Não tenho de traduzir as palavras na minha cabeça”

Quando o seu pai marroquino e a sua mãe norte-americana foram confrontados com palavras que não compreendiam, Aliya Benabderrazak, de 13 anos, prestou-se a ajudar.

Em 2014, a sua família pegou em tudo e mudou-se de Framingham para San Miguel de Allende, no México. Ela e os seus irmãos – que frequentaram o programa de língua dupla na Barbieri – serviram de tradutores para os pais, criticando os seus esforços frequentemente.

Aliya Benabderrazak (ao centro), num jogo de futebol com as amigas Hannah (à direita) e Chloe (à esquerda) Pearce da Escola Primária Barbieri. As três meninas frequentaram juntas o programa de duas línguas.

Aliya Benabderrazak posa para uma fotografia numa sala de aula da Escola Primária de Barbieri. Fotos cortesia |

“Eu traduzia algo de uma maneira e a minha irmã corrigia-me ou o meu irmão traduzia e eu corrigia-o”, disse Benabderrazak, agora com 19 anos. “Era um pouco estranho, mas acho que nos fazia sentir necessários e prestáveis e úteis aos nossos pais”.

A mãe de Benabderrazak, Lori Greene, disse que a mudança abrupta se deu depois de a família ter visitado aquela cidade em férias. Ela sentia-se esgotada com a vida nos EUA e disse “algo (sobre essa viagem) fez-me perceber que havia outra opção além de uma loucura super programada”.

O plano original era viver lá durante um ano, mas dentro de cinco semanas eles “não queriam voltar”.

“Fui eu, foram os meus níveis de stress que nos conduziram até aqui”, disse Greene. “Aliya não estava realmente de acordo, mas aprendeu a gostar disto”.

Benabderrazak tinha concluído o quinto ano na Barbieri e frequentou brevemente a McAuliffe Charter School antes da mudança. Com um forte domínio em espanhol académico, em princípio sentiu dificuldade em adaptar-se a uma versão mais conversacional e social.

“Foi um pequeno desafio para ela no início – ‘Como é que eu me torno amiga de alguém em espanhol? Como é que falo com as meninas da minha equipa de futebol ou com os meus vizinhos ou com aquele gajo ao fundo da rua?”, referiu Greene.

Aliya Benabderrazak, agora estudante na University of Tennessee Knoxville. Foto cortesia |

Hoje, Benabderrazak pode mudar sem problemas do inglês para o espanhol e espera acrescentar o árabe aos seus conhecimentos. A sua jornada até à fluência em espanhol começou em 2007, quando era aluna do jardim-escola na Barbieri. Ela lembra-se que não podia falar inglês a menos que usasse um “colar especial”.

“A minha mãe sempre me disse que eu estava muito preocupada por não saber como perguntar para ir à casa de banho ou sobre algo que precisasse de saber”, disse Benabderrazak.

Mas ela nunca se sentiu derrotada quando tinha dificuldade com o espanhol.

“Estava realmente a aprender espanhol, tal como estava a aprender inglês. Foi uma espécie de luta em ambas as línguas e não foi necessariamente: ‘Meu Deus, é tão difícil aprender a ler em espanhol’, porque eu não sabia ler nada”, disse Benabderrazak.

Em poucos meses, Benabderrazak sentia-se suficientemente confortável com a língua para a falar em casa. Por vezes, até falava espanhol durante o sono.

Hoje, está a estudar Psicologia na Universidade de Tennessee Knoxville, enquanto tira um curso “minor” em Espanhol. Ela conta poder trabalhar com crianças com doenças mentais.

“Quando o professor fala comigo, não tenho de traduzir as palavras na minha cabeça. Entendo o que ele diz”, informou Benabderrazak.


“Consigo criar ligações com as pessoas”

As gêmeas Hannah e Chloe Pearce conseguiram forjar laços inesperados com pessoas por toda a cidade devido à sua fluência em espanhol.

Para Hannah, isso permite-lhe conversar com o seu chefe colombiano enquanto trabalha em Saxonville Mills Café & Roastery. Chloe conseguiu intervir e traduzir para alunos que não falavam inglês em aulas de ginástica. As duas gémeas, que pertencem à classe de 2020 do Liceu de Framingham, também puderam transferir os seus conhecimentos de espanhol para português para falar com alunos brasileiros no ensino médio.

“Tem sido tão legal poder conectar-me com pessoas que alguns dos meus amigos não conseguem fazê-lo”, disse Chloe, de 17 anos.

As irmãs gémeas Chloe, à equerda, e Hannah Pearce, a frequentar a Framingham High School, na sua casa em Framingham. Ken McGagh | MetroWest Daily News Staff

Isto pode ajudar os recém-chegados a sentirem-se mais bem-vindos na escola quando os colegas falam a sua língua, referiu Hannah.

“Para alguns destes jovens, são só eles… e se não falar a mesma língua, isso pode criar uma divisão na escola. Não se perde nada se mais pessoas souberem falar mais línguas”, afirmou Hannah, de 17 anos.

As duas gémeas frequentaram o programa de dupla língua na Barbieri, antes de se ausentarem brevemente do programa enquanto frequentaram a escola McAuliffe. Voltaram a entrar no programa no liceu, onde as aulas eram “basicamente como uma aula de inglês avançado, mas em espanhol”, disse Hannah.

Chloe Pearce, de 17 anos, aluna finalista na Framingham High School, pratica com as suas colegas da equipa principal de basquetebol, em Fevereiro de 2020. Ann Ringwood | MetroWest Daily News Staff

Chloe, à esquerda, e Hannha Pearce, alunas finalistas da Classe 2020 da Framingham High School. Ken McGagh | MetroWest Daily News Staff

Hannah Pearce, a trabalhar em Saxonville Mills Cafe em Fevereiro. Hannah e a sua irmã gémea Chloe passaram ambas pelo programa de dupla língua da Escola Barbieri, e são fluentes em espanhol. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

Leram livros como “Don Quixote de la Mancha” (“The Ingenious Gentleman Don Quixote of La Mancha”) de quase 1.000 páginas e o romance “Crónica de una muerte anunciada” (“Chronicle of a Death Foretold”) em espanhol.

É poderoso sermos capazes de ler as palavras que um autor tencionou que os leitores vissem em vez de uma tradução diluída, disse Hannah.

“Quando vê coisas traduzidas e conhece o original, pode dizer se algo foi perdido [na tradução]”, disse ela.


Uma oportunidade para dar um passo em frente

Como imigrantes de Trinidad e Tobago, o programa de língua dupla na Barbieri encontrava-se no topo da lista para os pais de Reyad Shah.

“Ter a capacidade de o filho aprender outra língua gratuitamente na escola era algo que eles não podiam ter imaginado para si próprios. Os meus pais viam nisso uma verdadeira oportunidade para me ajudarem a dar um passo em frente”, disse Shah, agora com 30 anos.

Reyad Shah, coordenador do Tempo Fora da Escola na Framingham High School, à direita, com o aluno Mohammed Khan, do 11º ano, na biblioteca. Khan estava a trabalhar num website para o gabinete de antigos estudantes liderado por alunos. Art Illman | MetroWest Daily News Staff

Reyad Shah posa com colegas de turma na cerimónia da sua graduação do 5º ano.

Ele começou a frequentar a Barbieri em 1995, quando o programa ainda estava na sua infância. As entidades do distrito tinham implementado o método de aprendizagem em 1990, com o modelo 50/50, o que significa que os estudantes passaram metade do dia a aprender em espanhol e o resto em inglês. Durante os primeiros anos, o programa só foi praticado em algumas salas de aulas, antes de ser alargado a toda a escola.

Shah lembra-se de ter aulas numa sala improvisada na biblioteca. Os professores tinham montado divisórias para criar o espaço, trabalhando para acomodar o pequeno mas crescente programa da escola.

“Era assim: ‘Temos todas estas crianças que querem ter acesso a este programa’. Como é que acomodamos isto? Temos de criar uma sala de aula”, disse Shah.

Hoje, ele usa regularmente o espanhol nas suas funções como coordenador de actividades extra-curriculares na escola secundária. Por vezes, os alunos perderam o autocarro e não têm a certeza sobre como chegar a casa. Outras vezes, estão à procura de indicações para chegar a uma sala de aula.

“As crianças ficam ali e ali permanecem, à espera que alguém faça essa ligação de que não falam inglês”, disse Shah.